segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Curso de Sistemática Filogenética





Bem-vindos!

Bem-vindos a este curso interativo sobre a sistemática filogenética. Este curso foi concebido como uma ferramente de trabalho para o ensino dos conceitos básicos e dos métodos da Sistemática Filogenética. Nosso objetivo foi o de buscar fórmulas que permitam ao aluno conduzir sua própria aprendizagem.
Este curso foi desenvolvido por Ramón Muñoz-Chapuli, professor do Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências, Universidade de Málaga (Espanha).
A elaboração do curso foi possível graças ao projeto de Inovação Educativa “Elaboração de material interativo e multimídia para o ensino da Sistemática Filogenética”, concedido pelo Insituto de Ciências da Educação da Universidade de Málaga, para o curso 1998-99.
Todas as dúvidas, sugestões e críticas serão bem-vindas e atendidas no endereço chapuli@uma.es.
A tradução do presente curso para o português foi realizada por Carlos Augusto Riella de Melo, aluno de graduação de Ciências da Natureza – Licenciatura, na Universidade Federal do Pampa, Unipampa, Campus Uruguaiana (Brasil). Para contatos com o tradutor, o endereço é guto.riella@gmail.com. O site original do curso, onde pode ser conferido seu conteúdo em espanhol, é http://www.cienciasold.uma.es/departamentos/bioanimal/sfonline/sistematicafilogenetica/sfpresentacion.htm.
Atenção, o material ainda está sendo traduzido; dentro em breve novos capítulos





Tema 1.- Introdução à Sistemática. A sistemática pré-evolutiva. A nova sistemática. O Feneticismo.


A prática da Sistemática consiste na nominação e ordenação dos seres vivos de acordo com normas aceitas por toda a comunidade científica. Na atualidade, essas normas constituem um sistema denominado linneano, em honra a Karl Von Linneo (1707-1778). Esse sistema se baseia em dois princípios:
  1. Cada espécie de ser vivo (animal, planta, protista ou bactéria) recebe um nome único, em latim, construído com duas palavras (um binômio). Esse binômio consta de um nome genérico, que pode ser comum a várias espécies próximas, e um nome específico. Por exemplo: Homo sapiens, Canis familiares ou Pinus pinea
  2. O agrupamento das espécies de faz em estruturas hierárquicas, de maior ou menor categoria. Isto quer dizer que os táxons (unidades de agrupamento) de uma categoria determinada se agrupam em táxons de categoria superior e compreendem táxons de categoria inferior. No caso da espécie humana, isto se reflete na seguinte tabela, que contém as categorias linneanas “clássicas”:


Categoria:
Taxón:
Outros táxons próximos com a mesma categoría
Reino
Animais (Metazoa)
Plantas, Protistas...
Philo
Cordados
Equinodermos, Hemicordados...
Classe
Mamíferos
Arcosaurios, Anfibios...
Ordem
Primatas
Quirópteros, Dermápteros...
Família
Homnídeos
Pongidos, Cercopitécidos...
Gênero
Homo
Australopithecus...
Espécie
Homo sapiens
Homo erectus


O esquema formal de Linneo permitiu pôr fim a uma situação bastante caótica na organização da informação sistemática. Desde os tempos de Aristóteles só se distinguia entre animais com sangue (vertebrados) e sem sangue (invertebrados), e dentro de cada grupo os animais se classificavam em função de seu modo de vida (natatilia: nadadores, volatiliza: voadores, gressibilia: ..., vermes: vermes). Dentro de cada um desses grupos, a ordem era alfabética. Isso levava a situações tão pitorescas quanto a de colocar, um junto ao outro, nos libros de zoologia do Renascimento, o cavalo do mar (Hippocampus em latim) com o hipopótamo, já que ambos vivem na água e seus nomes começas com “hip”.
Lineu, portanto, proporciona um sistema formal de agrupamento com uma grande capacidade para armazenar informação. Mas é preciso perguntar-se agora: Qual o critério do naturalista para agrupar determinados táxons (ex. espécias ou famílias) dentro de um táxon de categoria superior (ex. gêneros ou ordens)? Quando em finais do Século XIX se impôs a ideia de evolução, se pode utilizar com esse fim o parentesco filogenético, como logo veremos. Mas, como se faziam os agrupamentos antes desse acontecimento?
O critério fundamental também o proporciona Aristóteles, e se baseia no essencialismo. O naturalista trata de distinguir, nas características dos organismos, as que são essenciais (as que definem sua “essência”, sua “causa formal”) das que não são (caracteres acidentais, não essenciais). Desta forma, uma espécie determinada, um gênero ou uma família concreta se revelam caracteres “diagnósticos”. Estes caracteres diagnósticos, basicamente morfológicos, permitem agrupar aos indivíduos em espécies, aos táxons de categoria inferior em táxons de categoria superior. A tarefa da sistematização seria, portanto, a de identificar os caracteres essenciais e realizar agrupamentos (e classificações) em função deles.

Assim, dizemos que este organismo que é um tubarão tecnicamente pertencente aos elasmobrânquios galamorfos, porque reúne as características essenciais dos elasmobrânquios (endoesqueleto cartilaginoso, dentes de substituição, escamas placóides) e as dos galeomorfos (cinco aberturas branquiais e aleta anal).
Desta forma, qualquer outro ser vivo que reúna as cinco características essenciais antes citadas deve ser considerado um tubarão (elasmobrânquio galeomorfo). Por outro lado, este indivíduo tem uma série de características, como a aleta caudal semilunar, ou a cor cinza, que não invluem na consideração de que se trata de um tubarão, ainda que possam ser caracteres essenciais na determinação do gênero ou da espécie.
Neste complexo essencialista, de raiz aristotélica, é onde podemos situar o conceito tipológico de espécie. Com efeito, de dizemos que um animal concreto, um indivíduo, pertence à espécie Canis familiaris (cachorro), é porque reúne uma série de características essenciais para ser considerado como tal (junto com outras não essenciais, que fazem do dito indivíduo um caniche, um pequenez ou um chihuahua).
Esse critério, claro e simples, se complicou quando, progressivamente, ao longo do Século XIX, foi se impondo a ideia de evolução. De fato, se todos os seres vivos são o resultado de um processo evolutivo, contamos com uma nova variável na hora de fazer agrupamentos: o parentesco filogenético. No próximo tema desenvolveremos esta noção. Por hora é bastante assinalar que, hoje em dia, existem dois critérios para realizar agrupamentos de táxons:
1.      A similaridade morfológica, isso é, a comparação de características definidoras do táxon. Agrupamos as aves no táxon aves porque têm plumas, asas, bico córneo, etc., isso é, reúnem as características “essenciais” das aves.
2.      O parentesco filogenético, isso é, a proximidade com ancestrais comuns. Agruparemos as aves em um mesmo táxon porque todas compartem um ancestral comum, relativamente recente e, naturalmente, mais recente do que o ancestral que qualquer ave comparte com qualquer outro vertebrado.
No caso anterior não há discussão. As aves estão agrupadas no táxon aves, independentemente  do critério escolhido. Mas na realidade o conflito entre ambos critérios pode existir. Um exemplo muito típico é o do agrupamento de lagartos, crocodilos e aves. Se atendemos a critérios morfológicos, à primeira vista, lagartos e crocodilos se parecem mais entre si, o que justificou seu agrupamento, durante séculos, no táxon “répteis”. Em contrapartida, a filogenia do grupo (representada na figura ao lado) indica que aves e crocodilos são ramos derivados de uma linhagem comum (assinalado em alaranjado e, portanto, como veremos no próximo tema, copartem um maior grau de parentesco. Tal parentesco favorece uma agrupação crocodilos+aves, em um táxon que se determinou “arcossáurios”. Logo veremos as consequências desse tipo de conflitos.

Lembre-se, podemos agrupar aos organismos em função de suas similiaridades morfológicas.

A nova sistemática ou sistema evolutivo, é uma corrente desenvolvida a partir dos anos 1940 por Ernst Mayr e Georges Simpson, a partir da constatação de que a aceitação da ideia de evolução não se tinha produzido nenhuma mudança na prática da sistemática. Isso é, seguia-se trabalhando como nos tempos de Lineu. A sistemática evolutiva propôs uma série de melhorias metodolócias tais como:
·         A utilização do conceito biológico de espécie, baseado em propriedades biológicas (a comunidade reprodutiva) e não no conceito tipológico, baseado no essencialismo, como vimos antes.
·         A utilização de caracteres morfológicos e não morfológicos, e a necessidade de avaliar adequadamente (com métodos estatísticos se necessário) a variabilidade.
·         A necessidade de avaliar similaridades morfológicas e parentesco filogenético em caso de conflito.
Estas propostas foram bastante criticadas ao longo dos anos 60. Por exemplo, se assinalou que o conceito biológico de espécie não era operacional. Na prática não se comprova, na maioria dos casos, o critério de interfecundidade. O que é pior, espécies claramente diferentes, e que não se cruzam na natureza, hibridizam sem problemas em laboratório. Na realidade, ante as dificuldades da aplicação do conceito biológico de espécie, os taxonomistas seguem usando critérios tipológicos na hora de defini-las.
Por outro lado, não estava claro como se havia de proceder em caso de conflito entre similaridade e parentesco. Também se assinalou que os critérios de agrupamento em categorias supra específicas eram subjetivos. Que uma família determinada compreendia dois, três ou quatro gêneros não podia justificar-se de forma objetiva, e a aceitação de uma ou outra possibilidade parecia depender da autoridade de quem realiza o agrupamento. Desta forma, a prática sistemática parecia estar fora do domínio da ciência.
Ante essas críticas, surgiram duas alternativas que pretendiam um método sistemático científico, isso é, objetivo e replicável. A primeira destas alternativas se denominou feneticismo ou taxonomia numérica. A segunda, que será a que exporemos neste curso, é a sistemática filogenética.
Os princípios da taxonomia numérica foram desenvolvidos por Sokal e Sneath em dois livros publicados em 1963 e 1973. A ideia básica era a de resolver o dilema similaridade/parentesco em benefício da primeira. Utilizar somente a similaridade morfológica e quantifica-la em forma de índices de similaridade ou de distância. Tais índices deveria refletir a semelhança global entre os táxons.
Não é objetivo deste curso estudar os procedimentos feneticistas. Comentaremos que estes procedimentos se baseiam no uso de matrizes nas quais se incluem valores numéricos de determinados atributos das unidades a agrupar, unidades deniminadas OTUs (de operative taxonomical unity), que podem ser indivíduos, mostras de populações ou espécies, etc. Os atributos podem ser medidas, proporções, contagens ou caracteres semi quantitativos (ex. 0=ausência, 1= presença). A ideia é que quanto mais similares sejam dois OTUs, menor será a diferença global entre os valores de seus atributos. Desta forma se podem definir índices de distância fenética, como por exemplo a média quadrática das diferenças entre cada par de atributos. No caso de identidade total entre dois OTUs, este índice valeria zero, e será maior quanto mais diferentes sejam os OTUs.

Exemplo de matriz de dados: 
OTU1
OTU2
OTU3
Car. 1
24
26
29
Car. 2
12,2
14
15
Car. 3
2
3
3

Exemplo de índices de distância:  
OTU1
OTU2
OTU2
1,89
OTU3
3,34
1,49

A representação gráfica dos índices de distância leva a diagramas denominados fenogramas, que representam os grupos de OTUs em função de sua simitude global. Existem vários tipos de algoritmos de representação. O exemplo anterior é mostrado nesta figura:


Os OTUs 2 e 3, com maior similaridade global, se situam a uma distância de 1,49. A distância do OTU 1 ao grupo (OTU2+OTU3) é igual à média aritmética das distâncias a cada um de seus componentes, isso é: (1,89+3,34)/2 = 2,61.

 
 
A situação na qual se marca o nascimento da sistemática filogenética é, portanto, uma sistemática “evolutiva”, que apesar de seu nome, seguia utilizado procedimentos basicamente essencialistas ou pré-evolutivos. O conceito biológico de espécie resultava difícil de aplicar na prática, pelo que se aplicava o conceito tipológico clássico. Se punham conflitos insolúveis entre a similaridade e a filogenia. E em última instância a classificação contava com um proponente fortemente subjetivo. A alternativa feneticista, por outra parte, abandonava não ao conceito de evolução, mas de qualquer sentido biológico de classificação. A similaridade se convertia na única propriedade relevante com a qual trabalhar com seres vivos não resultava diferente de trabalhar com qualquer tipo de objetos. Veremos nos próximos temas como a sistemática filogenética tenta resolver estes problemas.
Mas antes podemos passar a realizar alguns exercícios. As respostas estão no fim deste curso.

Exercícios do Tema 1:

1)      Cada espécie biológica recebe um nome formado por:

2)      Cada unidade de agrupamento (e de classificação) recebe o nome de:

3)      Cada nível de agrupamento (e de classificação) recebe o nome de:

4)      No caso do táxon aves, quais destas características considerarias essenciais para a definição do táxon?
(  ) Patas
(  ) Plumas
(  ) Bico
(  ) Unhas
(  ) Pulmões
(  ) Ossos

5)      Os critérios que se podem utilizar para realizar agrupamentos são:

6)      O único critério que utiliza a taxonomia numérica é o critério de:




Tema 2.- Os princípios teóricos da Sistemática Filogenética.

Como já dissemos no tema anterior, o agrupamento de táxons de uma categoria inferior (ex. espécies ou gêneros) em táxons de categoria superior (gêneros ou famílias, respectivamente), pode fazer-se seguindo critérios de similaridade e/ou de parentesco filogenético. Isso, como também já vimos, pode dar lugar a conflitos. A solução que a Sistemática Filogenética propõe é utilizar exclusivamente o parentesco filogenético como critério de agrupamento.
Vamos desenvolver a noção de parentesco filogenético, que é crucial para compreender o que segue. Pode-se estabelecer uma analogia com o parentesco familiar. O que é que nos faz ser aparentados como nossos irmãos, primos ou tios? O fato de compartilhar ancestrais comuns. De fato, existe um grau de parentesco que está relacionado com a “distância” temporal de nossos ancestrais.
Observemos a figura. Dizemos que estamos mais aparentados com nossos irmãos que com nossos tios ou primos porque com nossos irmãos compartimos ancestrais mais próximos (nosso pais). Por outro lado, os ancestrais mais recentes que compartilhamos com nossos primos são nossos avós. Com familiares mais distantes (primos em segundo ou terceiro grau, tios-avós, etc.) vamos compartilhando ancestrais comuns mais remotos no tempo (bisavós, tataravós...).
Se seguirmos subindo em nossa árvore genealógica, compreenderemos que estamos aparentados, em maior ou menor grau, com todos os humanos, uma consequência direta de uma propriedade biológica, a reprodução.
Do mesmo modo que todos os humanos (e todos os seres vivos) estão aparentados, também existe um grau de parentesco filogenético que dependerá da distância dos ancestrais comuns mais recentes. Nesse sentido, dizemos que os crocodilos são parentes mais próximos das aves do que com os lagartos porque compartem em elas um ancestral comum mais recente do que o que compartem com os lagartos (pode-se comprová-lo na figura do Tema 1).
Esta propriedade descansa sobre duas suposições: que a origem da vida foi única e que a diversidade dos seres vivos é produto da evolução. Ao mesmo tempo, essa propriedade está proporcionando um critério objetivo de agrupamento. Na Sistemática Filogenética, agruparemos os táxons em função de seu grau de parentesco filogenético, isso é, em função da ordem relativa de seus ancestrais comuns.
A prática da Sistemática Filogenética consistirá, portanto, em elucidar qual é o grau de parentesco entre os táxons e realizar agrupamentos que se baseiam em tal grau de parentesco. Isso nos leva a uma primeira consequência muito importanto. Dado que os táxons estão compostos por organismos aparentados (descentes portanto de um ancestral com a todos eles) todos os táxons, todas as unidades de classificação, deverão ser estritamente molofiléticos (ver figura). Isso é, um agrupamento não monofilético, não formado por todos e cada um dos descententes de um ancestral comum, não pode ser considerada como táxon.

Conceito de monofilia estrita
Nesse diagrama, que representa a filogenia real entre um grupo de organismos (A,B,C,D,E,F,G), podem distinguir-se até 13 grupos estritamente monofiléticos (formados por um ancestral comum e todos seus descendentes). Esses grupos são os seguintes:A, B, C, D, E, F, G, BC, ABC, DE, DEF, ABCDEF e ABCDEFG
Não são monofiléticos, por exemplo, DEFG ou ABCDE, já que não incluem todos os descendentes de um ancestral comum.

Isso muda de uma maneira radical a Sistemática clássica, baseada em relações de milaridade. Por exemplo, equinodermos, artrópodes, aves ou mamíferos podem ser considerados como táxons, contanto que assumamos que são monofiléticos. Sem dúvida, os peixes ósseos (osteictios), os répteis e os anfíbios não formam grupos monofiléticos e não podem constituir-se em táxons.
Portanto, o sistema filogenético deve:
1.      Definir os grupos monofiléticos com os quais se vai trabalhar.
2.      Inferir as relações filogenéticas entre eles.
3.      Transladar esse esquema de relações para o sistema formal linneano.
Tudo isso se constitui em um marco fortemente hipotético. A prática da Sistemática Filogenética consiste basicamente em elaborar hipóteses sobre o grau de parentesco que reflitam o que realmente suscedeu na história evolutiva dos seres vivos. As hipóteses se elaboram, como já veremos, de acordo com certas normas rigorosas. Tais hipóteses são progressivamente reforçadas por novas descobertas ou serão refutadas e abandonadas por hipóteses alternativas, mais sólidas. Portanto, o avanço não se produzirá por tentativa e erro. Isso é o que se chamou de método hipotético-dedutivo por filósofos da ciência como Karl Popper. A Sistemática Filogenética, portanto, situa a prática sistemática dentro dos domínios científicos.
Vamos fazer, agora, alguns exercícios sobre esse tema:

1)      Na sistemática Filogenética, táxons de categoria A serão agrupados em um mesmo táxon de categoria superior B sempre que:
(  ) Tenham um ancestral comum
(  ) Exista um nível suficiente de similiaridade morfológica.
(  ) Estejam filogeneticamente mais aparentados entre si do que com membros de outros táxons de igual ou superior categoria.
(  ) Seu ancestral comum pertença ao táxon de categoria B

2)      Dizemos que A e B estão mais aparentados entre si do que com um terceiro táxon C se:
(  ) A e B compartilham um ancestral comum mais recente que o ancestral comum que ambos compartem com C.
(  ) A e B comparte um número maior de caracteres morfológicos.
(  ) A e B não compartem ancestrais comuns com C.

3)      Quantos grupos monofiléticos podes contar nesta árvore filogenética?



4)      A partir da figura do Tema 1, que reproduzimos aqui, podemos afirmar que o grupo formado por lagartos + crocodilos + dinossauros + aves é monofilético? E o grupo dos dinossauros é monofilético? Por quê?


5)      Dizemos que a Sistemática Filogenética é “científica” porquê:
(  ) Maneja “hipóteses de trabalho” sobre o grau de parentesco entre os organismos
(  ) Os que a praticam são cientistas.
(  ) As relações com as quais trabalha, as relações de parentesco, são objetivas, isso é, realmente existem na natureza.



Respostas dos exercícios:

Tema 1:

1)   Duas palavras: Gênero e espécie. Isso é o que se denomina classificação binomial.
2)   Cada unidade de agrupamento (e de classificação) recebe o nome de táxon (são táxonos, por exemplo, aves, moluscos, carabídeos, ou Formica rufa)
3)   Cada nível de agrupamento (e de classificação) recebe o nome de categorias (são categorias taxonômicas, por exemplo, família, filo, reino e espécie)
4)   Plumas e bico, já que todas as aves (e só as aves) os têm. Os outros caracteres são essenciais à definição de táxons de categoria superior (ossos: vertebrados, pulmões: teleóstomos, patas e unhas: tetrápodes). Desta forma, todos eles são parte da “essência” das aves, no sentido de que todas as aves os têm, mas não servem para definição do táxon.
5)   Similiaridade (principalmente a similiaridade morfológica) e o parentesco filogenético.
6)   A similaridade morfológica, para a qual se estabelece uma estimativa quantitativa.

Tema 2:

1)   Estejam filogeneticamente mais aparentadas entre si do que com membros de outros táxons de igual ou superior categoria. Em efeito, esse é o grau de parentesco entre tais táxons, o que justificaria sua inclusão em um mesmo táxon de superior categoria. Os membros de outros táxons sempre terão menor grau de parentesco.
Por outro lado, todos os organismos têm algum ancestral comum, e a similaridade morfológica não é critério de agrupamento no Sistema Filogenético.
2)   A e B compartilham um ancestral comum mais recente que o ancestral comum que ambos compartilham com C. É a ordem relativa dos ancestrais que marca o grau de parentesco.
Compartir um maior número de caracteres morfológicos não é relevante na Sistemática Filogenética, por outro lado, todos os organismos compartem ancestrais comuns mais ou menos remotos no tempo.
3)   Onze: A, B, C, D, E, F (por definição), BC, ABC, EF, DEF e ABCDEF
4)   Com efeito, é um grupo monofilético, posto que compreende a todos e cada um dos descendentes de um ancestral comum, representado pelo “tronco” basal. Também são monofiléticos os grupos crocodilos+dinossauros+aves e dinossauros+aves. Observe que os dinossauros como grupo não são monofiléticos, a menos que incluam as aves dentro do grupo (algo que, por outro lado, não parece muito disparatado. As aves foram definidas como “dinossauros com plumas”).
Duas respostas válidas, porque lida com “hipóteses de trabalho” sobre o grau de parentesco e porque trabalha com relações objetivas, relações de parentesco.
O que fazem os cientistas não tem 


Sistemática filogenética


A classificação biológica diz respeito à distinção e à descrição de espécies viventes e fósseis e à organização dessas espécies em uma classificação hieráriquica com vários níveis. São usados principalmente dois métodos para classificar as espécies em grupos: os métodos fenéticos (ou fenotípicos) e os métodos filogenéticos (RIDLEY, 2006, p. 497). A classificação fenética agrupa as espécies em seus caracteres fenotípicos observáveis (op.cit.).
A classificação filogenética pretente traduzir a posição de cada organismo em relação aos seus antepassados, bom como as relações genéticas entre os diferentes organismos atuais (WIKIPEDIA, 2013).
Enquanto no primeiro sistema nada é preciso saber sobre evolução, o segundo é evolutivo; só entidades que têm relações evolutivas podem ser classificadas filogeneticamente (RIDLEY, 2006, p. 498).
O princípio filogenético classifica as espécies de acordo com a recentidade com que elas compartilham um ancestral comum. Duas espécies que têm  um ancestral comum mais recente serão agrupadas em um mesmo grupo, de grau mais baixo do que o de duas espécies que têm um ancestral comum mais distante (RIDLEY, 2006, p. 498). Quanto mais distante for o ancestral comum a duas espécies, o “ponto de encontro” na árvore filogenética, denominado por Dawkins (2009), de “concestral”, maior será a distância entre as classificações de seus respectivos agrupamentos (RIDLEY, 2006, p. 498).
No sistema de classificações filogenéticas todos os táxons devem corresponder a grupos monofiléticos, ou seja, os taxa contenha um ancestral e todos os descendentes desse ancestral e nenhum outro organismo. Isso confere um significado muito particular a essas classificações. Quando os táxons são monofiléticos, eles correspondem a entidades históricas que são descobertas, e não inventadas. A partir daí o sistemata tem a tarefa de obter cladogramas e se cria um sistema de nomes que reflita a filogenia em todos os níveis (WIKIPEDIA, 2013)
Nosso sistema de classificação segue os métodos estabelecidos por naturalistas dos séculos XVII e XVIII, especialmente os do sueco Carl von Linné. O sistema lineano expressa a Nomenclatura Binomial na designação das espécies e as organiza em categorias hierárquicas (táxons) para sua classificação (PERAZZO, 2012). A atual classificação começa, em ordem de abrangência do maior para o menor por
Reino
Filo (Divisão para plantas)
Classe
Ordem

Na zoologia, a classificação, a partir daí, segue a seguinte convenção:
Taxon
Terminação
Família
IDAE
Subfamília
INAE
Superfamília
OIDEA
Tribo
INI
Subtribo
INA

Culminando com a classificação binomial, com um nome de Gênero, no qual a espécie está classificada, seguido termo, próprio da espécie, sempre em latim. Em casos de subgêneros ou subespécies, adota-se a nomenclatura trinominal (PERAZZO, 2012).

Para representar-se as relações filogenéticas, é comum usar-se árvores filogenéticas, que são diagramas representando a ancestralidade e as relações entre os táxons (RIDLEY, 2006, p. 504).
Tais árvores podem ser enraizadas ou desenraizadas. No caso de ser enraizada, sabemos onde está o ancestral; árvores desenraizadas, ao contrário, não têm direção definida (DAWKINS, 2009, p. 159).
Quanto ao formato das árvores há dois, o cladograma, que informam somente a ordem das ramificações, e os filogramas ou árvores filogenéticas, onde o comprimento dos ramos representa a distância evolutiva; quanto mais longo o ramo, mais mudança em relação ao ancestral (DAWKINS, 2009, p. 167).
Usam-se, ainda, números ao lado dos galhos da árvore filogenética a fim de representar a probabilidade estatística da veracidade de sua informação (DAWKINS, 2009, p. 169).
Abaixo, exemplos das árvores citadas, baseados em Dawkins, 2009:

Cladograma desenraizado sobre hipótese dos parentescos entre gêneros de gibões:


Cladograma enraizado sobre hipótese dos parentescos entre gêneros de gibões, definindo o ponto mais antigo:



Filograma enraizado mostrando relações filogenéticas entre espécies de gibões, chimpanzé, bonombo e seres humanos; o comprimento dos galhos determina a distância de parentesco:

Mesmo filograma anterior, com acréscimo do grau percentual de certeza das relações descritas:



Obras consultadas:

DAWKINS, Richard. A grande história da evolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
PERAZZO, Giselle. Regras de nomenclatura zoológica. Uruguaiana: Unipampa, 2013.
RIDLEY, Mark. Evolução. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Wikipedia, a Enciclopédia Eletrônica. Disponível em <http://pt.wikipedia.org>. Acesso em 15/02/2013.